domingo, 21 de outubro de 2007

Série Festival Beradeiros 2007: Banda enmou


Hoje estou aqui com o Nettu da banda Enmou de Vilhena, Rondônia, que estará também presente no Festival Beradeiros, do qual nós do FreakGlam apoiamos, para ascensão da cena do rock do norte do país. O Nettu também é o assessor de imprensa do festival e vai nos falar um pouco sobre a banda, preconceitos e sobre o festival.

Justine: Olá Nettu!
Nettu: Olá Justine!
Justine: E então Nettu, quando foi que surgiu a Enmou?
Nettu: A Enmou começou em agosto de 2002, e o primeiro show foi no mesmo mês (dia 31), com o nome provisório de "Eu, o Zé e os Caras" - alusão que nunca fazíamos shows com a mesma formação da anterior, até fevereiro de 2003, quando a primeira formação estável começou.
Justine: Como que surgiu este nome? Têm algum significado!?
Nettu: Em 2003 nosso (ex) guitarrista Robson chegou com esse nome, segundo ele surgiu do nada, e ficou naquilo. Cada um ia inventando seu significado como: "Entrei No Mês de OUtubro", "Eu Não Mudo Opiniões Universais", "Escola de Niilistas Maníacos Ortodoxos Utópicos" e por aí foi. Como era uma palavra inventada do nada a gente encara como um desafio: dar significado a esse nome todo dia, a cada ensaio e
Justine: A formação é a mesma ou teve mudanças!?
Nettu: Da formação original só restou o Keith (vocalista) e eu (baixo). Esta formação tem quase um ano e meio. O baterista (Kleyton) foi o último que se integrou na banda.
Justine: Como você vê o rock 'n roll aqui no norte!?
Nettu: A gente está se descobrindo, pois o Norte é muito grande. Há um ano atrás eu não imaginava que existia rock (e dos bons) em Roraima (Mr. Jungle, Several Bulldogs e agora Veludo Branco) e no Amapá (Stereovitrola), por exemplo. O Acre é tido como referência devido ao Los Porongas e o Varadouro, mas o Norte por inteiro tem talentos como esses a serem descobertos, é um território imenso. Além do mais o rock do norte trás a proposta regional e ilustra o cotidiano de cada cidade e estado. Em Rondônia tenho fé no potencial daqui, e bandas como Coveiros, Recato, Ultimato, Quilomboclada, Sucodinois tem levado boas referências do que é produzido aqui. Temos potencial, falta descobrirmos cada vez mais e divulgar mundo a fora.]
Justine: Mas você acha que a visão das pessoas de outras regiões são distocidas ou mudou muito?
Nettu: Sempre é, parece que há um desdenho do que é feito por aqui. Somos vistos como atrasados e subdesenvolvidos, e olha que só estou falando dentro do contexto da cena rock. Embora isso tenha sido mudado estamos longe das condições ideais. Quanto ao contexto geral, tem gente que acha que a gente ainda viva no meio do mato, rodeado de índios e cheio de bicho nas ruas, embora cada vez mais eu sinta vontade de voltar no tempo para conservar o que um dia realmente foi realidade. Menos soja e mais floresta pelamordedeus!
Chega de alimentar bichos em confinamento e expulsar os seres humanos de suas terras e os animais silvestres de seu domínio!
Justine: Realmente, eu que morei fora de Rondônia por algum tempo sei muito bem como é isso, as pessoas acham que temos onça como gatinho de estimação. O que você falaria para estas pessoas que não compreendem muito bem a geografia?
Nettu: Pra você ter idéia: No ano passado no Festival Calango (em Cuiabá) estava conversando com um pessoal de São Paulo e em certo momento falei que moro em Rondônia: CARALHO!!!!! Você mora em Rondônia!!!!! Longe pra caramba!!!!
Chequem seus mapas meninos, Rondônia fica ao lado de Mato Grosso, se eu quiser pegar uma bicicleta e sair daqui agora em meia hora estou no Mato Grosso. Vou criar um movimento: "Sou do Norte, mas não sou sueco!"
Justine: Esse longe pra caralho mata! Ano passado em uma convenção escutei muito isso, ai uma colega virou pro cara e disse: Você já imaginou que quando eu to lá você também mora longe pra caralho! Ai os cara ficaram sem graça. O Brasil é um país gigante e rico de culturas, porém, as pessoas são mesmo muito ruins de geografia, acham que aqui é Amazônia e ponto final. Mas voltando, quais as maiores influencias de vocês?
Nettu: Tudo o que a gente viu, ouviu e sentiu até agora e ainda vai ter pela frente. A proposta musical da banda está ligada ao punk rock e ao hardcore, principalmente dos anos 80 e 90.
Justine: As letras de vocês tem contextos sociais, não é? Como vocês se inspiram? Eu particularmente acho mais complicado escrever sobre relatos e fatos sócio e econômico do que de relacionamentos ou coisas do gênero.
Nettu: Sim, nossas letras são críticas a comportamentos sociais, como consumismo, valorização excessiva da estética em relação ao caráter, da discriminação social. Como instrumento utilizamos o senso de humor, pois é uma forma velada (e mais fácil) de fazer assimilar uma idéia de que muitas coisas que passam batidas em nossas vidas merecem ser repensadas. Também tratamos de relacionamentos, num contexto mais amplo, sem nos aproximar muito da questão sexual e afetiva, pois não é nosso objetivo. É mais dificil escrever sobre questões sociais porque as vezes você é visto como panfletário e as pessoas sequer querem ouvir você, e mesmo assim te julgam.
Justine: Já que o homossexualismo é um problema social, escreveriam algo sobre?
Nettu: Tenho letras que abordam a homoafetividade sim, ainda não estão musicadas. Essa questão faz, logicamente, parte da questão de discriminação sexual. Aliás, discriminação sexual é uma forma de segregação social.
Justine: Você é uma pessoa assim como eu livre de qualquer preconceito, ou ainda tem aversão a algo?
Nettu: Todos temos nossos preconceitos, é natural do ser humano. Tratar de quebrar isso é um dos nossos objetivos como seres sociais. Ainda não me livrei do ódio pelos são-paulinos por exemplo (rs), mas com o tempo aprendo a lidar com eles. Voltando a falar sério, algumas coisas podem me abalar mais pra frente, mas provavelmente vou lidar com isso. O que me chateia hoje em dia é extremismo, principalmente visto hoje em dia em fundamentalistas religiosos e idealistas políticos.
Justine: Olha, eu não sinto preconceito, pois eu penso assim, a palavra já diz tudo é um pré-conceito daquilo que todos desconhecem, então se uma pessoa gosta de algo não vou julga-la por isso sem antes saber do que se trata. Eu não chamaria certas coisas de preconceito, mas de raiva de algumas atitudes, ai pode ser julgado como preconceito.
Nettu: Sim concordo, em relação ao que disse anteriormente o fundamentalismo e idealismo atualmente são os fatores que mais geram ignorância e, logo, preconceito. Tomo uma idéia que meu avô me passou: "Não diga que não tem preconceitos, pois o mundo é muito grande, algo pode te surpreender". Como nossa vida é um eterno aprendizado, temos que nos esforçar em (procurar) saber o que está acontecendo ao nosso redor, para evitarmos julgamentos apressados, e por fim atitudes preconceituosas. E ainda tenho muito a aprender.
Justine: é que eu já ouvi e vi muita coisa! O mundo do rock vive um eterno preconceito. As pessoas as vezes te julgam por ter banda ou algo do gênero, ou você é drogado ou vagabundo. Vocês ja sofreram algum tipo de preconceito?
Nettu: Sempre, te chamam de vagabundo, drogado, satanista, vândalo, de tudo o que um roqueiro pode ser chamado. Mas tiramos de letra isso, aliás, fazemos letras sobre isso, já que novamente estamos lidando com preconceitos. Eu sou o bom moço do rock de Vilhena, aliás, bonzinho até demais. É chato lidar com isso, mas é algo que espero que com o tempo a gente mude principalmente aqui em Rondônia.
Justine: Um dia quem sabe as pessoas abram suas mentes e se preocupem apenas com suas próprias vidas! Bem, você é assessor de imprensa do Festival Beradeiros (como já foi dito no prólogo), você tem encontrado muitas dificuldades nesta área da imprensa?
Nettu: Por incrível que pareça é ao contrário, todas as "portas" que batemos têm sido receptivas. As mídias de Rondônia se interessam por pautas culturais, como é o caso do festival, abrem espaços em sites, jornais, TV's e Rádios. É a hora e a vez de contarmos o nosso lado da história e mostrar o que é produzido pelos jovens no estado. A dificuldade que sinto é a falta de empenho dos próprios interessados (bandas e produtores) em utilizar esse espaço de forma inteligente e positiva.
Justine: No ano passado o festival teve alguns problemas técnicos que o fizeram cair em relação ao conceito até mesmo das próprias bandas, você não acha que isso pode ter prejudicado na falta de interesse, ou já era assim?
Nettu: Acredito que já era assim, os pontos negativos do Festival do ano passado vieram transparecer isso. Ali você pode ver quem está pelo festival & pelo coletivo e quem está apenas por sua banda. A falta de interesse parte mais do individual para o coletivo do que vice versa nesse caso. Se tem algo errado e eu posso ajudar tenho que o fazer, se me omitir estou jogando fora minha razão e o interesse por melhorar a cena local.
Justine: Quais são suas expectativas para este ano!?
Nettu: As melhores possíveis, que as bandas façam ótimas apresentações, que o Beradeiros se firme como um Festival voltado à produção cultural dos jovens rondonienses, o que de fato é para ser. Que o backstage reúna os melhores amigos, que o público curta as bandas, que as exposições e vendas de material independente façam sucesso e que façamos novos amigos por lá, duro depois é a saudade né?
Justine: Com certeza a saudade pesa, (risos) eu sinto saudades de você, você conversou tão pouco comigo!
Nettu: Sou tímido demais. Mas fiquei te olhando muito =] No Beradeiros iremos trabalhar juntos, vai ser bom para deixar as conversas em dia.
Justine: Verdade! Vou te pentelhar! (risos) E a parceria como xplastic? Sairá!?
Nettu: Espero que sim. Estamos com a proposta de uma assessoria de imprensa alternativa, alcançar novos veículos e fazer do Beradeiros conhecido nos meios formais e alternativas da imprensa nacional e porque não internacional. A oportunidade foi dada, basta aproveitar.
Justine: Como o xplastic trabalha com bandas do cenário independente e divulga até mesmo o som delas, seria uma forma diferente de divulgar o festival, e quem sabe o Ruy e sua equipe não goste de alguma banda e encaixe o som deles em próximos filmes.
Nettu: Com certeza, já conheci algumas bandas via X-Plastic, como Asterdon, é um meio de divulgação que pode ser aproveitado por bandas nortistas.
Justine: O FreakGlam e a Enmou?
Nettu: Propostas parecidas, quebrar padrões e fazer da vida a melhor o possível e sem preconceitos.
Justine: O que você gostaria de deixar para nossos leitores?
Nettu: Em primeiro lugar deixar os links para que possam ouvir a banda Enmou:
www.myspace.com/enmouhc
www.tramavirtual.com.br/enmou
www.fotolog.com/enmou
E dizer que devemos compreender e respeitar o mundo, o que tiver de ser mudado vamos encarar. Curtam a vida, com muito humor, muito sexo, muita visão, mas que tudo seja feito com responsabilidade. Sejam felizes e escutem a banda Enmou, se quiserem baixar o som e mandarem pros seus amigos - e seus inimigos, caso os quiser sacanear - tá liberado.
Justine: A pergunta que não quer calar: solteiros?
Nettu: Vamos lá, na banda os guitarristas não estão namorando, se forem ver a banda Enmou no Beradeiros, colem nos guitarristas! O baixista é gente fina, (risos)
Justine: Hum vou bisbilhotar (risos). Bem eu gostaria de agradecer a total atenção e por nos conceder esta entrevista. Eu espero que nosso blog ajude no que for necessário para sua banda e para o festival.
Nettu: Agradeço a você pelo espaço cedido, sempre que precisar estaremos aqui. Aliás, todo dia sempre passo por aqui, está entre meus favoritos. Por último, aquele jabá, visitem também www.vilhenarockzine.blogspot.com (vilhena rock) e o blog oficial do festival (www.beradeiros.blogspot.com). Por último, novembro em Porto Velho vai ser o lugar, festival de cinema colado num festival de rock. Perfeito!


Pessoal eu recomendo por demais que visitem os links. Vamos unir a cena do rock independente da região. Nós do FG estamos aqui para quebrar os paradigmas.

Super beijos,

Justine François.


*Imagem concedida pela banda.

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